Leia, a seguir, o poema O Rebanho, de Mário de Andrade (1893-1945), de seu livro ‘Pauliceia Desvairada’, de 1922 (grafia do original da época).
O Rebanho
Oh! Minhas alucinações!
Vi os deputados, chapéus altos,
sob o pálio vesperal, feito de mangas-rosas,
sairem de mãos dadas do Congresso…
Como um possesso num acesso em meus aplausos
aos salvadores do meu estado amado!…
Desciam, inteligentes, de mãos dadas,
entre o trepidar dos taxis vascolejantes,
a rua Marechal Deodoro…
Oh! Minhas alucinações!
Como um possesso num acesso em meus aplausos
aos heróis do meu estado amado!…
E as esperanças de ver tudo salvo!
Duas mil reformas, tres projectos…
Emigram os futuros nocturnos…
E verde, verde, verde!…
Oh! minhas alucinações!
Mas os deputados, chapéus altos,
mudavam-se pouco a pouco em cabras!
Crescem-lhes os cornos, descem-lhes as barbinhas…
E vi que os chapéus altos do meu estado amado,
com os triángulos de madeira no pescoço, [1]
nos verdes esperanças, sob as franjas de oiro da tarde,
se punham a pastar
rente do palácio do senhor presidente…
Oh! minhas alucinações!
Fonte: <https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/7651>. Acesso em: 10 mar. 2022.
– – –
[1] Costume rural de colocar triângulos de madeira no pescoço dos caprinos para não atravessarem cercas de arame. Visualização em 10 de março de 2022.
Fonte da imagem:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Stories_Old_English_Poetry-0179.jpg
Abby Sage Richardson, Public domain, via Wikimedia Commons.
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