‘Cuentos Completos 1’, de Julio Cortázar

Julio Cortázar, um dos maiores inovadores na arte do conto, imagem meramente ilustrativa.
Sepamosmas, CC0, via Wikimedia Commons.

O argentino Julio Cortázar (1914-1984), um dos maiores inovadores na arte do conto e do romance, escreveu excepcionais “contos fantásticos” [1], “por falta de melhor nome”, como ele próprio diz em seu conhecido texto “Algunos aspectos del cuento” [2].

Compara o conto com o romance: enquanto o romance se desenvolve sem limite de escrita ou tempo de leitura, até o esgotamento da matéria romanceada, o conto parte da noção de limite.

Cortázar pareia romance e conto com cinema e fotografia: o filme, como o romance, é “uma ordem aberta”, enquanto a fotografia, como o conto, pressupõe limitação prévia imposta pela câmera, e pela forma como o fotógrafo utiliza essa limitação. [3]

Lembra dos grandes fotógrafos que definem sua arte como um paradoxo aparente:

“recortar um fragmento da realidade, fixando-lhe determinados limites, mas de maneira tal, que esse recorte atue como uma explosão que escancara uma realidade muito mais ampla” [4]

Enquanto no romance a captação da realidade mais ampla se dá por elementos parciais, acumulativos, o contista não pode proceder cumulativamente, precisa ser incisivo, por sua limitação, para obter aquela abertura.

Para Cortázar três noções nos aproximam da estrutura do conto: significação, intensidade e tensão. A significação se refere à propriedade de a narrativa irradiar-se além de si mesma. Assim um conto de Tchekhov, supostamente de temática cotidiana, é capaz de obter uma ruptura do cotidiano.

A intensidade estaria ligada à eliminação de todas as ideias intermediárias que o romance permite, intensidade esta que, unida à tensão, seria capaz de causar um “sequestro momentâneo” do leitor, que o retira de seu entorno, e a ele o devolve, ao final da leitura, com uma percepção enriquecida. [5]

A tensão seria, para o autor, uma intensidade de outra ordem. O narrador vai pouco a pouco, lentamente, nos aproximando do que é contado, como num conto de Henry James, em que não importam tanto os fatos indicados, mas a malha sutil de tudo que os acompanha e os desencadeia, e que vai sendo sugerida, criando uma tensão interna. [6]

“um conto, em última instância, se move nesse plano humano onde a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me permitem o termo, e o resultado dessa batalha é o próprio conto, uma síntese vivente, bem como uma vida sintetizada” [7]

– – –

[1] Veja-se, por exemplo, a coletânea ‘Cuentos Completos 1’ (Buenos Aires, Alfaguara, 2018) [A descrição do sumário mais abaixo se refere a esta edição].

[2] Cuadernos Hispanoamericanos, 255, Madrid, Cultura Hispanica, mar. 1971.
Este ensaio de Julio Cortázar, indicado para quem estuda literatura ou gosta de contos, pode ser baixado gratuita e legalmente da Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, em: <https://www.cervantesvirtual.com/obra/algunos-aspectos-del-cuento>. Acesso em 15 set. 2021.

[3] Id., p. 406.

[4] Id., p. 406.

[5] Id., p. 411.

[6] Id., p. 412

[7] Id., p. 405.

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ESTE VOLUME CONTÉM CONTOS DOS SEGUINTES LIVROS

“La otra orilla” (1945)
13 contos agrupados em três títulos:
‘Plagios y traducciones’
‘Historias de Gabriel Medrano’
‘Prolegómenos a la Astronomia’

“Bestiario” (1951)
8 contos; entre eles, ‘Casa tomada’

“Final del juego” (1956)
3 seções:
I: 6 contos; entre eles, ‘Continuidad de los parques’
II: 7 contos; entre eles, ‘Una flor amarilla’
III: 5 contos; entre eles, ‘Después del almuerzo’

“Las armas secretas” (1959)
5 contos; entre eles, ‘El perseguidor’

“Historias de cronopios y de famas” (1962)
Dezenas de microrrelatos, dividos em três títulos:
‘Manual de instrucciones’,
‘Ocupaciones raras’ e
‘Historias de cronopios y de famas’

“Todos los fuegos del fuego” (1966)
8 contos; entre eles, ‘La autopista del sur’

“Historias (inesperadas) [de “Papeles Inesperados (2209)]”
4 contos; entre eles, “Manuscrito hallado junto a una mano”

Fonte da imagem:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Calle_Julio_Cort%C3%A1zar.jpg
Sepamosmas, CC0, via Wikimedia Commons.

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Kari Shea karishea, CC0, via Wikimedia Commons
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